O Instituto Avon se uniu à organização de jornalismo de dados Gênero e Número para a realização de um estudo com o objetivo de compreender os efeitos da pandemia de Covid-19 no diagnóstico e tratamento do câncer de mama no Brasil. De acordo com a pesquisa, que tem como base dados fornecidos pelo DATASUS, o Sistema Único de Saúde (SUS) do estado da Bahia registrou uma diminuição de 38% na quantidade de exames de diagnóstico realizados em 2020 em comparação a 2019. Ao todo, o Brasil teve uma queda de 28% na realização destes procedimentos, o que representa 473 mil exames a menos que em 2019.
A pesquisa demonstrou que o isolamento social, importante para o controle da contaminação por coronavírus, teve um profundo impacto na rotina de cuidados e prevenção com a saúde das mulheres por todo o país, que reduziram às idas ao médico para realização de exames. Considerando a última década, o número de diagnósticos aprovados em 2020 na Bahia só superou a quantidade realizada em 2010. Em relação às mamografias, a queda no número de pacientes que realizaram o procedimento foi de 40%.
Sem uma rotina de exames preventivos periódica e adequada, as chances de diagnóstico do câncer de mama em estágios mais avançados aumentam, resultando em tratamentos mais agressivos. Entre janeiro de 2019 e junho de 2021, 44% dos procedimentos de tratamento realizados na Bahia correspondiam às fases 3 e 4 do câncer de mama. Além disso, 80% do orçamento voltado para o tratamento da doença no estado também foi destinado a esses estágios. Ao todo, o Brasil registrou um aumento de 5% em tratamentos para casos avançados de câncer de mama em 2020 em comparação a 2019. O estágio 3 foi o com maior crescimento de tratamentos (7%). Entre janeiro e junho de 2021, 48% dos tratamentos foram realizados em pacientes em estágios 3 e 4.
“Com o diagnóstico precoce, as perspectivas de cura são maiores, assim como a qualidade de vida da paciente, que tem menos chances de desenvolver metástases e receber indicações para tratamentos mais invasivos”, explica Daniela Grelin, diretora executiva do Instituto Avon. “Nosso objetivo como organização não-governamental que atua na atenção ao câncer de mama é conscientizar mulheres de todo o país sobre a importância do acompanhamento anual das mamas, mesmo quando existe uma ausência de sintomas relacionados à doença, também sobre os fatores de risco, seus direitos previstos na legislação, a necessidade de equipes multidisciplinares durante o tratamento e quais são as políticas públicas e projetos que estão disponíveis para auxiliar aquelas que convivem com o câncer e as que desejam se prevenir ou tirar dúvidas”, completa.
O Instituto Avon, organização não-governamental que atua na defesa de direitos fundamentais da mulher, por meio de ações e iniciativas na resposta ao câncer de mama e no enfrentamento à violência contra mulheres e meninas, acredita que a detecção precoce e acesso oportuno a tratamentos de qualidade salva vidas e trabalha para ajudar todas as mulheres a conhecerem o risco do câncer de mama. Para promover o diagnóstico preventivo da doença no estado, o Instituto Avon investiu em 2018, R﹩12 milhões para implementação de unidades de atendimento fixas e móveis na Bahia, com equipamentos como mamógrafos digitais e aparelhos de ultrassom.
Impactos por todo o Brasil
O SUS registrou cerca de 1,2 milhão de procedimentos de diagnóstico de câncer de mama no Brasil em 2020, segundo o levantamento realizado pelo Instituto Avon e pela Gênero e Número. Em 2019, o país havia alcançado a marca de 1,7 milhão de exames. Já em relação às mamografias realizadas, o primeiro ano da pandemia também apresentou uma redução de 40% no volume de procedimentos, com 1,8 milhão de exames em comparação aos 3 milhões feitos no ano anterior.
Os recursos destinados ao diagnóstico do câncer de mama também sofreram impactos significativos. De acordo com a pesquisa, houve uma queda de 26% no orçamento, passando de R﹩ 49 milhões, em 2019, para R﹩ 36 milhões, em 2020. Além disso, no primeiro semestre de 2021, o SUS destinou 81% da verba para o tratamento de câncer de mama para pacientes em fases avançadas da doença – cerca de R﹩ 698 milhões. Já os tratamentos em fases iniciais da doença, os chamados estágios 1 e 2, receberam R﹩ 166 milhões, o que revela uma demanda maior por tratamentos em estágios mais evoluídos da doença.

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